Em 1856, em meio às transformações científicas que marcariam o fim do século XIX, nascia em Neustrelitz, Alemanha, Emil Kraepelin. Médico psiquiatra, ele dedicou décadas de pesquisa à sistematização dos transtornos mentais e ajudou a estabelecer bases que permanecem influentes até hoje.
Seu livro Lehrbuch der Psychiatrie (Manual de Psiquiatria), publicado pela primeira vez em 1883 (muito antes de existir DSM), passou por oito edições ao longo de sua vida. Em cada versão, ele acrescentava novas observações clínicas e classificações cada vez mais detalhadas, refletindo a importância que atribuía aos dados empíricos coletados em hospitais psiquiátricos.
Método de trabalho de Kraepelin e seus desdobramentos
Kraepelin tornou-se referência por defender a observação de longo prazo como ferramenta essencial para diferenciar e categorizar as doenças mentais. Esse enfoque no “curso da doença” influenciou não apenas a classificação psiquiátrica na Alemanha, mas também a elaboração de publicações internacionais, notadamente o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) principalmente a partir de sua terceira versão.
Seu cuidado metodológico, analisando centenas de pacientes com anotações diárias detalhadas, certamente o ajudou em uma de suas grandes contribuições para o pensamento diagnóstico psiquiátrico. Kraepelin caracterizou e diferenciou bem duas grandes a caracterizar duas grandes categorias de doenças que, segundo seus registros, apresentavam cursos clínicos distintos:
• A Demência precoce (Dementia praecox) era subdividida posteriormente em diferentes quadros, viria a ser reformulada sob o nome de esquizofrenia por Bleuler, mas a denominação inicial de Kraepelin evidenciava a deterioração cognitiva precoce e as alterações comportamentais marcantes.
• Já a Psicose maníaco-depressiva agrupava quadros hoje compreendidos como transtornos de humor, mostrando como a flutuação entre mania e depressão seguia um padrão recorrente e passível de prognóstico.
Resumo dos Dados que Respaldam o Legado de Emil Kraepelin
• Várias Edições de um Mesmo Manual: O Lehrbuch der Psychiatrie chegou à oitava edição em 1915, cada vez mais denso, refletindo atualizações a partir de novas evidências clínicas.
• Influência Direta em Classificações Atuais: Até a 11ª edição da CID e as versões recentes do DSM, princípios kraepelinianos de observação e categorização continuam visíveis na distinção entre transtornos psicóticos e de humor.
• Contribuição para Estudos Epidemiológicos: A ênfase de Kraepelin na coleta sistemática de dados contribuiu para fomentar os primeiros estudos estatísticos em psiquiatria, trazendo objetividade ao campo.
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